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A estratégia da oposição contra o governo trabalhista de Dilma Rousseff

Brizola PTPor Cássio Moreira*

Gosto de uma frase de Platão que diz que “pessoas normais falam sobre coisas, pessoas inteligentes falam sobre ideias, pessoas mesquinhas falam sobre pessoas”. Presenciamos um fato, cada vez mais comum nos dias de hoje, que é o de a maioria das pessoas lerem apenas as manchetes dos jornais ao invés de lerem todo o artigo. Pior do que isso: a imensa dificuldade de interpretar textos e ter um pensamento crítico despido das manipulações sistemáticas do oligopólio dos meios de comunição que nos cercam com informações, especialmente na área econômica e política, com o propósito de servir aos seus intere$$es, como diria Brizola. Um dos grandes economistas do século XX, John Kenneth Galbraith, resume bem esses interesses por intermédio do seguinte pensamento: “faz parte da natureza da posição privilegiada que ela desenvolva a própria justificação política e, com frequência, a doutrina econômica e social que lhe seja mais conveniente. Ninguém gosta de acreditar que seu bem-estar pessoal está em conflito com a necessidade pública maior”.

 

Atualmente, chegamos ao cúmulo de certas apresentadoras de telejornal virarem ídolos do discurso do ódio, plantado de forma sorrateira na sociedade brasileira contra a política (diga-se de passagem que já se tornou sinônimo de politicalha, muito por culpa de um grupo crescente de políticos). A forma simplista que aquela menina apresenta a resolução de problemas graves e complexos lembra-me de um texto que li, em algum lugar na internet, onde um apresentador de telejornal dizia que o perfil do telespectador médio do jornal televisivo era o de muita dificuldade para entender notícias complexas e pouca familiaridade com siglas como BACEN ou BNDES, por exemplo. Na redação, então, ele foi apelidado de Homer Simpson. Trata-se do simpático mas obtuso personagem dos Simpsons: uma das séries estadunidenses de maior sucesso na televisão em todo o mundo. Pai da família Simpson, Homer adora ficar no sofá, comendo rosquinhas e bebendo cerveja. Tem o raciocínio lento e é preguiçoso. A explicação inicial seria mais do que necessária, mas daí para à frente o nome mais citado pelo editor-chefe desse Jornal era o do senhor Simpson. Dizia ele: “Essa o Homer não vai entender”, com convicção, antes de rifar uma reportagem que, segundo ele, o telespectador brasileiro médio não compreenderia. Atualmente, estamos na fase, na minha humilde opinião, da “normalização” da violência e do incentivo ao ódio, prova disso é a defesa que muitas pessoas fizeram de uma “jornalista” que expôs de forma simplista, raivosa e violenta a solução para problemas que queremos solucionar, mas de maneira civilizada, cristã e que não gere mais violência.

Acho engraçado que muitas pessoas comentam sobre meus artigos muito mais sobre o título do que sobre o conteúdo ou simplesmente ficam debatendo sobre determinada pessoa (político) e não sobre as ideias que ele representa ou que exponho. Tempos atrás escrevi um artigo sobre uma possível estratégia de Lula e, de certa forma o comparando com o ex-presidente Getúlio Vargas, no sentido delas serem elaboradas para avançar com seus governos populares contra uma oposição conservadora.

 

Em junho de 2013, no auge das manifestações, escrevi três possíveis cenários eleitorais para esse ano de 2014 apontando-os como os próximos passos da mídia-oposição:

 

Cenário 1 – caso a popularidade da presidenta não caísse substancialmente (que parece ser o cenário que se confirmou):

a) algum possível “caso de corrupção” viraria um escândalo na mídia para tentar atingir a presidenta Dilma Rousseff. Esse escândalo seria usado sistematicamente nas manchetes dos jornais e revistas com o intuito de enfraquecer o governo nas eleições de outubro de 2014.

 

Cenário 2 – caso a popularidade da presidenta despencasse:

b) Continuar nesse clima de terror econômico até as eleições de 2014 e eleger Aécio Neves do PSDB.

 

Cenário 3 – caso a popularidade da presidente crescesse:

c) contribuir para que as manifestações saíssem de controle, o que justificaria um golpe ou impeachment para interromper um projeto de cunho popular como foi feito em 1964.

 

O que presenciamos hoje é a desconstrução de uma imagem de forma tão hábil e sistêmica como é a que se tem feita contra a presidenta Dilma Rousseff. Os meios de comunicação têm construído essa imagem de incompetência e corrupção quando na verdade temos uma presidenta das mais competentes e corretas das últimas décadas.

 

Esses dias, num seminário na Faculdade de Direito da UFRGS, sobre a “descomemoração” dos 50 anos do Golpe Midiático-Cívil-Militar de 1964 assisti uma das tantas brilhantes palestras do meu orientador na época do doutorado, o professor Pedro Fonseca, e ele comentou que a forma que esses meios de “informação” atacam o governo é diferente de como faziam contra Getúlio e Jango. Na época as manchetes eram desse tipo: “Somos um povo honrado governado por ladrões” (TRIBUNA DA IMPRENSA,1954). Fonte: http://www.brasil247.com/pt/247/midiatech/81238/%E2%80%9CSomos-um-povo-honrado-governado-por-ladr%C3%B5es%E2%80%9D.htm)/. “Baderna é a tática da oposição: guerra de rua para impeachment de Jango” (ÚLTIMA HORA, 1964); “Considerado desastroso para o país um 13º salário” (O GLOBO, 1962). Em 1954, por exemplo, o jornal O GLOBO em uma edição extraordinária publicava uma séria de reportagens sobre a corrupção no Brasil, informando sobre vários casos. A seguir algumas dessas manchetes da época: “Aventureiros e malfeitores acompanhavam o chefe do governo (Getúlio Vargas)”,     “A corrupção gerou a revolta”, “Um sindicato de assassinos e ladrões tomou conta do poder”, “O caso da “Última Hora”, “Fim de uma era negra da história de um povo desafortunado”,  “O drama de Toneleros”,”As investigações conduzem ao palácio do Catete”,  “Caçada espetacular para capturar Climério”, “O arquivo espantoso”, “O crime foi planejado e executado por elementos que serviam no palácio do Catete, onde residiam”, “A confissão pormenorizada do executante da empreitada”, “Negociatas, favoritismo e corrupção à sombra do Catete”, “Um “presente” de 600 mil cruzeiros com dinheiro do Banco do Brasil”, “O crime do palácio do Catete” (página dupla central), “O caso Cleofas”, “Climério e Soares emissários do Sr. João Goulart”, “240 quilos de cédulas, ou 600 quilos de níqueis”, “Cabanas pedia a Gregório que aconselhasse Getúlio”, “Gregório compra fazenda”, “A pátria degradada”, “Valente recebeu ordem (e dinheiro) de Gregório para dar fuga a Climério”, “Autorização pessoal de Vargas para o empréstimo ao Japonês”, “Cumpria ordens de Gregório quando contratei com Alcino a morte de Carlos Lacerda”, “Victor Costa dava dinheiro a Gregório”, “O general Caiado de Castro suspeitou da participação de Gregório no atentado”, “Caso fossem presos, dissessem que fizeram (o crime) a mando de Luthero”, “Irmão de Vargas protesta contra negociatas no B.B.”, “Gregório era alvo de ternas homenagens”, “Uma espécie de assessor econômico do Presidente”, “Atingidas a integridade e a autoridade do Governo”, “Relatório da comissão militar de inquérito”, “Dentro da ordem e da democracia” Eram mais de 34 páginas, onde qualquer leitor ficaria revoltadíssimo sobre o caso do “mensalão” ou da compra da refinaria de Pasadena, digo, sobre o mar de lama que inundava o governo do melhor presidente da história do Brasil: Getúlio Vargas. Se não foi o melhor, pode ter sido o segundo melhor, pois para alguns, como o pré-candidato Eduardo Campos: Lula teria sido o melhor presidente da história do Brasil (fonte: http://www1.folha.uol.com.br/poder/2011/05/915742-eduardo-campos-nega-querer-presidencia-e-reafirma-apoio-a-dilma.shtml). Após mais de 60 anos, a história se repete com outros atores em outro contexto.

 

Em meu livro “O Projeto de Nação do Governo João Goulart: o Plano Trienal e as Reformas de Base”, com apresentação do jornalista Juremir Machado, a ser lançado no início de maio pela Editora Sulina, tem um quadro onde comparo os aliados e opositores do governo Jango, onde mostra a correlação de forças que sustentava o projeto do governo. Muitas semelhanças acontecem atualmente contra o governo Dilma Rousseff, principalmente no que tange aos meios de comunicação.

Se conseguirmos enxergar nas entrelinhas e perceber quais interesses estão por trás das relações, essas coisas ficam mais claras de entender. Como diria o escritor britânico C. S. Lewis: “se você enxergar o que está por trás de todas as coisas sem exceção, então tudo se tornará transparente para você. Mas um mundo completamente transparente é um mundo invisível”. Juntando a isso o fato de grandes corporações de comunicação no Brasil, que constituem um oligopólio da informação, afrontarem nossa constituição de 1988. Um Marco Regulatório para os meios de comunicação, conjuntamente com a mãe das reformas que é a Reforma Política e sua irmã que é a Reforma Tributária, é necessário para elevar e qualificar concorrência. Diga-se de passagem, que regular não é censurar (interessante ver o vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=78N1F7a1xWA).

 

Fica cada vez mais claro, portanto, qual a estratégia da oposição conservadora. Primeiro se desestabiliza o governo no ponto de vista econômico. Os meios de comunicação martelam sistematicamente a volta da ameaça do descontrole da inflação (o que força o governo a distribuir renda em favor dos mais ricos por meio da elevação da taxa de juro). Conforme o gráfico baixo, percebemos que ela já esteve saindo do controle no final do governo do PSDB:

 

Fonte:http://novascartaspersas.wordpress.com/2014/01/21/mitos-economicos-brasileiros-5-no-governo-fhc-a-inflacao-esteve-sob-controle-mas-depois-ela-disparou/

 

Segundo, não se esclarece os benefícios de uma Copa do Mundo para o país. Trata-se como se fossem gastos e não investimento, pois esse último traz retorno: seja em infraestrutura, seja no potencial com o turismo, seja em qualificação e empregos para a população e/ou seja em arrecadação de impostos que devem pagar tranquilamente os gastos feitos em estádios, inclusive com os construídos em capitais sem grandes clubes.

Conforme relatório da empresa de consultoria Ernst & Young Terco, em parceria com a Fundação Getulio Vargas (FGV), traz dados importantíssimos em relação a um novo ambiente que se desenha no País com a Copa do Mundo e que poderá proporcionar, com preparo adequado do poder público e da iniciativa privada, inúmeras oportunidades de crescimento. Esse relatório faz parte da série Brasil Sustentável, que após cinco edições analíticas sobre o horizonte macroeconômico nos setores habitacional, energético, de consumo, industrial e agroindustrial, aborda mais um tema estratégico à pauta de discussão, tanto por sua capacidade geradora e multiplicadora de riquezas para o País. Nele por exemplo, vemos a importância e grandiosidade do evento: Copa do Mundo 2014. Além dos gastos de R$ 22,46 bilhões no Brasil relacionados à Copa para garantir a infraestrutura, e a organização, a competição deverá injetar, adicionalmente, R$ 112,79 bilhões na economia brasileira, com a produção em cadeia de efeitos indiretos e induzidos. No total, o País movimentará R$ 142,39 bilhões adicionais no período 2010-2014, gerando 3,63 milhões de empregos-ano e R$ 63,48 bilhões de renda para a população, o que vai impactar, inevitavelmente, o mercado de consumo interno. Essa produção também deverá ocasionar uma arrecadação tributária adicional de R$ 18,13 bilhões aos cofres de municípios, estados e federação. O impacto direto da Copa do Mundo no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro é estimado em R$ 64,5 bilhões para o período 2010-2014 – valor que corresponde a 2,17% do valor estimado do PIB para 2010, de R$ 2,9 trilhões. Como a Copa do Mundo é um evento pontual, uma parte de seus impactos sistemáticos não será permanente, mas outra parte poderá tornar-se um legado para a população. Fonte:http://www.ey.com/Publication/vwLUAssets/Brasil_Sustentavel_-_Copa_do_Mundo/$FILE/PDF_copa.do.mundo_port.2011.pdf

 

Continuando na estratégia da oposição para vencer as eleições de 2014, em terceiro, requenta-se um caso de compra de uma refinaria feito quase 10 anos atrás como um fato novo e martela-se nisso de forma sistemática. Em quarto, se arruma um escândalo de corrupção atrás do outro (pois infelizmente corrupção existe em todas as partes e partidos) bombardeando a população com reportagens negativas contra o projeto trabalhista, enfraquecendo o governo cada vez mais. Lembro-me de uma frase que adoro do genial Luis Fernando Veríssimo “Brasil: esse estranho país de corruptos sem corruptores”. Em quinto e de forma conjunta, durante e depois da Copa, irão apontar todos os casos que derem errado, sem levar em conta os casos de sucesso (mesmo que eles sejam percentualmente maiores do que os negativos).

Em contrapartida, uma população cada vez mais despolitizada deverá escolher nas urnas entre um projeto que tem diminuído consideravelmente o maior de todos os problemas brasileiros que é a nossa IMENSA desigualdade socioeconômica ou um projeto que não acredita na capacidade do trabalhador brasileiro e vê na força do livre-mercado a solução egoísta para problemas que requerem solidariedade.

Mas se nada disso der certo, uma CPI plantada anteriormente, poderá levar ao impeachment da presidenta reeleita. Parafraseando o célebre artigo de Carlos Lacerda contra o governo nacionalista de Getúlio Vargas e que poderia ser dito por um desses candidatos de oposição citados anteriormente: “A Sra. Dilma Rousseff, presidenta, não deve ser candidata à presidência. Candidata, não deve ser eleita. Eleita não deve tomar posse. Empossada, devemos recorrer à um impeachment (ou um golpe) para impedi-la de governar.

 

* Cássio Moreira é economista, doutor em Economia do Desenvolvimento (UFRGS) e professor do IFRS – Câmpus Porto Alegre.   www.cassiomoreira.com.br

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