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TEMPOS ESTRANHOS

aZENHADo Perfil do VIOMUNDO (Luiz Carlos Azenha) 

Os taoistas dizem que toda pessoa é parte, mas também carrega nela o universo. Ou seja, os orientais subordinam o indivíduo ao bem comum.

No Vietnã, foi super bacana descobrir que o “comunismo” local, utilizado pela propaganda americana para demonizar o inimigo, tinha origem na necessidade do uso comum da água nas plantações de arroz (impossível separar a água num lote em que várias famílias cultivam).

Os camponeses que lutaram contra a invasão dos EUA eram todos budistas e, sim, nacionalistas de intensa vida comunitária.

Japão, China, Índia… o capitalismo é historicamente novinho por lá e mal arranhou essa ideia do todo ao qual se subordinam as partes.

Como ocidentais-subordinados, nós brasileiros vivemos no pior do capitalismo: exportadores de capital, importadores de tecnologia e cultura. Já temos Halloween e não resistimos a um gadget.

É estranho ver as pessoas fazendo selfies diários em seus iphones como se confundissem narcisismo com auto-conhecimento. Viver numa vitrine permanente deve explicar o consumo recorde de ansiolíticos. Já pensou, ter de agradar ao “freguês” 24 horas por dia?

E o que dizer daqueles símbolos e tags que acompanham as fotos e lentamente degradam a linguagem escrita? Outro dia brinquei que em breve será comum usar ‪#‎partiucremacao‬.

Acho até que essa linguagem extremamente utilitária tem o seu papel, mas traz consequências quando é expressão de um ultraindividualismo superficial.

Em risco, a capacidade de abstração, essencial para desenvolver a empatia, ou seja, se colocar no papel do outro, sentir pelo outro, lutar pelo outro.

É uma capacidade que o ser humano desenvolve lendo, refletindo, tecendo uma rede social em torno de interesses comuns, como fizeram durante séculos os plantadores de arroz vietnamitas.

Tenho comigo que o que descrevi acima ajuda a explicar a ascensão na cena política ocidental de aberrações como os Revoltados Online e Donald Trump, para ficar em apenas dois exemplos.

De um lado, uma linguagem degradada, sem matizes, sem nuances, disseminada com tal rapidez pelas redes que impede reflexão: estimula preconceitos e emoções, turva a razão.

De outro receptores incapazes de empatia, de aceitar subordinação a uma esfera pública onde estejam em minoria.

Quando escreveu sobre o homem/mulher-mercadoria e alienação, acho que o Marx nunca imaginou que a coisa ia ser literal assim…

Um pensamento sobre “TEMPOS ESTRANHOS

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